Jose Fernando Pinto

Ode a solidão

Ontem por um instante descobri-me sozinho. Por um instante somente, que me revelou claramente que quase nunca estou só, pois a solidão é a minha companhia. Em momentos de dor ou alegria, a solidão cerceia meu ser. Num primeiro instante, estranho pode parecer, mas observando de forma plena, a solidão galopante ou a solidão serena, estará sempre ao meu lado.

 

Ontem por um instante, descobri-me sozinho. Mas a solidão respeita meu espaço. Se me perco na multidão, lá está ela, sob a luz amarela ou brilhando na escuridão, solidão que envolve o meu espírito.

 

Em momentos de pura alegria, a solidão cede espaço, se envolve em fantasia, observa, se distancia. Quando dela eu precisar, a solidão vai estar por perto, e quando findar a alegria, com ela eu atravessarei novos desertos.


Ontem por um instante, descobri-me sozinho. Mas a solidão veio como um aconchego. Percebeu minha alma despedaçada, esperança dilacerada, e afagou o meu espírito.

 

A solidão é minha companhia. Nas vezes que desisti de viver, a solidão alimentou meu bem querer, naquelas que desisti de morrer, a solidão me abraçou e tentou compreender, porque a vida e a morte dependem sim de compreensão. A vida, a morte e a solidão.

 

Ontem por um instante, descobri-me sozinho. Descobri que a solidão por vezes me alivia, ela transforma em palavras a minha agonia, as dores da minha alma estilhaçada, que a solidão sabiamente desenha em linhas de poesia.

 

Ontem por um instante, descobri-me sozinho...

 

Jose Fernando Pinto