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Claudio Reis

CORDEL DA LAGOA ENTERNECIDA

Espiando pelas frestas da janela grande lá dos fundos
Se pôde perceber quintal todo alagado pela chuva
Parecia lagoa enternecida no amanhecer.

Gramíneas no seu tempo de colheita alimentando
fartamente os que ali moravam do belo reino animal
Bem de perto deu pra ver, anfíbios se esbaldavam
No aguaceiro, coaxavam alto de alegria e prazer

Festa animada pra ninguém botar defeito,
Amendoim, broca e gafanhoto, um banquete sem igual
Algazarra que foi tanta fez acordar a vizinhança
Que de pressa veio ver, o chão que parecia estremecer.

Um sapinho marronzinho bem pequenininho
De tão alto que saltava que voava, parecia um passarinho
Bem grandão e muito gordo um sapão apareceu
Dando bronca em todo mundo, a \"sapaiada\", xii, emudeceu.

A chuva foi bastante e demorou muito a passar,
Aguaceiro ia baixando cada um pra sua casa a lagoa vai secar
O tempo foi passando e o progresso foi chegando retirando do lugar
A casa velha da janela grande que nas frestas ia espiar.

Amendoim plantado no quintal trator passou para arrancar e nivelar
Lagoa cheia com a chuva nunca mais vai se formar.
Sapinho pequenininho marronzinho foi morar com passarinho
Gordo e grandão, o sapão ainda vive no lugar e quer coaxar.

Hoje aqui onde moro no sexto andar desse edifício que era casa
Abro a vidraça pra ver carros transitar e relembrar da minha infância
Lagoa que enchia com a chuva para algazarra dos anfíbios avenida ela virou.

Já a criança que se divertia com o coaxar da \"sapaiada\", envelheceu, com saudade ela ficou
Mas suas lindas lembranças e seu coração puro e bondoso, o progresso, nunca dela retirou.