Abel Ribeiro

Produção, paixão e prisão

Trotsky leu e escreveu na prisão, local onde nasceu a sua teoria da revolução permanente. Foi na prisão que Gramsci escreveu os Cadernos do cárcere, maior parte de sua produção intelectual foi no presídio. Rosa Luxemburgo foi presa por dois meses em 1904 e depois em 1907. Lia todos os dias. Em 1915 passou um ano na prisão, escreveu O Folheto Junius, base teórica para da Liga Espartaquista e A Revolução Russa, sobre os eventos daquele ano na Rússia.

Oscar Wilde foi preso acusado de \"indecência vulgar\" por manter um caso com o filho do Marquês de Queensberry, o Lorde Alfred Douglas. Foi na prisão que ele produziu “A alma do homem sobre o socialismo”, “Balada do Cárcere de Reading” e “De Profundis”.

Afinal, o que cárcere representou a esses grandes espíritos?  Um desígnio necessário? Um inoportuno produtivo?  As quatro paredes foram testemunhas de elaborações teóricas de grande valor. A prisão foi para estas almas um “mal necessário” de nascimento do renascimento do que se queria dizer mesmo sem liberdade. Ela gestou obras que vieram ao mundo e permanecem vivas até hoje.

Nas palavras de Oscar Wilde: “isolar-se, manter-se ao largo do clamor das exigências alheias, pôr-se ‘ao abrigo do muro’, no dizer de Platão, e assim elevar à perfeição o que está nele, para o bem inestimável de si mesmo, e para o bem inestimável e definitivo da humanidade”.  

A prisão trouxe-lhes a liberdade de refletir, estudar, escrever e crer na força do espírito, da abnegação e do tempo “livre”. Contra o mundo dos homens aprisionados pelo labor excessivo, estes prisioneiros usaram e abusaram sabiamente do ócio proporcionado pela prisão e transformaram em conspiração. Mesmo nos dias na solidão inevitável, do desejo da liberdade e da espera da saída pode-se dizer que o cárcere é o amargo espaço do encontro consigo mesmo.

Os cadeados em favor do amor ao próximo que não era por si religioso, mas cheio de paixão liberou uma verdade: A dialética é maior que a cela e este ser contraditório diz mas que qualquer misticismo sofistico.

Abel