Nada mais vejo além da neblina
Por favor me digam que horas são ?
A noite parece que nunca termina
Pra quem perambula na estação
Sinto embaçada a minha retina
Perco aos poucos o poder da visão
Aqui cheguei dobrando a esquina
Me apoiando em um corrimão
Ouvi me dizerem : \"o dia declina
Aperte o passo, controle a razão
Pois, de repente, por trás da colina
Vem o comboio pela escuridão
A hora que vem ninguém imagina
Cedo ou tarde, depende a questão
Atente ao farol, ao som da buzina
Hora correta é mera excessão \"
Vozes que ouço vem da campina
E ventos silvando na vegetação
Lembra colheita, lembra a usina
Homens , mulheres na plantação
Quando se colhe outra germina
É lei imutável na procriação
O lavrador colhe o fruto e examina
Recolhe se presta, descarta se não.
Que hora é essa? Alguém me opina:
\" Hora, quem sabe,, de uma reflexão
Um gesto qualquer no olhar já atina
Meneie a cabeça, me aperte a mão
Se ouves o trem , tua vida inclina
Sabes ao menos entrar no vagão ?
Com que esperança tu descortina
A última parada nessa indecisão\"?
A vida é bela , porém nos doutrina
E o passar da vaidade ensina a lição
Damos de ombros à pátria divina
Selando o futuro na vil perdição
Classe de elite no trem não combina
Nem privilégio e nem promoção
Terás surpresas dobrando a esquina
Apoiando sem forças, num corrimão