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Jose Fernando Pinto

Feliz ano velho

A maioria das pessoas ainda comemora o início de um novo ano. Festas, mesas fartas para a maioria, muito sorriso, muita alegria. O ato de iniciar qualquer coisa é importante. Iniciar o ano, iniciar a vida, iniciar um plano. É salutar que existam referências iniciais em nossas vidas, é por demais importante olhar adiante, enxergar novos rumos em caminhos que vamos percorrer. Respeito e admiro, mas hoje eu não vou comemorar, hoje vou apenas olhar o passado.

 

No primeiro dia do ano eu olho pra trás e vejo uma parte de mim que não existe mais. Ou melhor, eu não vejo, ela já não existe. Restaram apenas lembranças, saudades e lágrimas. Não quer dizer que foi tudo ruim, pelo contrário, coisas boas também aconteceram, e o fato de eu poder agora analisar o que passou, indica que estou vivo, que eu sobrevivi a mais um ano. Não foi um ano fácil. Algumas vitórias, inúmeras derrotas. Mas a vida é assim, cheia de percalços.

 

No primeiro dia do ano eu preciso agradecer. Agradeço a Deus por mais um ano e por permitir que eu chegasse até aqui. Preciso agradecer porque por Deus eu não desisti. Foram tantas e tantas vezes que eu quis desistir, foram noites e noites pensando numa maneira de justificar minhas falhas, dizer que sou humano, que sinto medo e muitas vezes eu necessitei de amparo. Nessas horas eu chorava.

 

Muitas vezes eu chorei por algo que perdia. Tantas vezes eu chorei porque não entendia. Não entendia que a vida é exatamente isso, perder todos os dias. Perdemos desde o nascimento até o derradeiro dia de nossas vidas. Perdemos a vida, perdemos amigos, perdemos pessoas queridas, perdemos a alegria. Às vezes chorar é preciso, às vezes é só o que resta.

 

Chorar por um novo ano não é exatamente o que a maioria entenderá. Mas chorar por um ano que passou isso sim é salutar. Chorar e agradecer, porque mesmo que às vezes não tenhamos conseguido satisfazer as expectativas que as pessoas possuíam a nosso respeito, valeu a pena. Então que as lágrimas sejam de saudades por momentos que não voltam mais.

 

Hoje eu choro pelo que passou, por tudo aquilo que pelo caminho ficou. Mas choro com a certeza de que tentei deixar o melhor de mim, a cada dia, a cada ano. Lamento não ter conseguido ser aquilo que queriam que eu fosse. Eu lamento e às vezes choro. E as lágrimas que brotam do meu rosto formam um mar de saudade, e que esta saudade seja referência de uma vida que valeu a pena, em cada dia, cada hora, cada segundo, porque é parte da minha história, é parte de mim. Feliz ano velho.

 

Jose Fernando Pinto