Pouco importa de ande vens, ou mesmo para onde vais.
O tempo lhe roubará o fôlego, a morte é seu único cais.
Pois aquele mascarado de vestes fúnebres te vigia.
De alma gorda de tédio, nobre compleição esguia.
Ele pode esperar por um instante somente.
Pelo deslize cruel que lhe condenará eternamente.
Ele pode dançar contigo nos salões iluminados.
Ou lhe oferecer prazer em leitos acetinados.
Mas te aguarda ansioso na próxima encruzilhada.
Sentado, a remover poeira de sua capa enlutada.
Pouco importam fantasias, se receias ou se anseias.
É inútil se preocupar com aquilo que hoje semeias.
O de ontem morto está, óvulo não fecundado.
O amanhã florescerá nos braços do mascarado.
Lutas, embates, contendas, nada disso importará.
Ciúmes, ódio, incertezas, muito pouco restará.
Pouco importa o que tens, acúmulo de vaidade.
O tempo se arrasta mofino, cheio de sagacidade.
E enquanto te embriagas, se sacias, preso à efêmera teia.
Teu tempo se esvai no vento tal qual finíssima areia.
Esse exímio enganador sem dor e sem compaixão.
Costura tua mortalha em rico ou pobre caixão.
Seu trabalho é esperar até uma vida inteira.
Para enfim te transportar à morada derradeira.