Quem sou eu que acordo nas madrugadas, muito antes da alvorada para ver o sol nascer? Quem sou eu, que admira o sol, admira o céu, e em meio às estrelas faz da noite escura uma moldura para escrever. Quem sou eu que vago sozinho pelas ruas, sem destino, sem bússola, feito menino correndo na imensidão, quem sou eu, estou perdido ou apenas sem direção?
Quem sou eu que leio as placas, desenha mapas, às vezes anda na contramão, contesta o mundo, a caretice, e os imbecis que ainda insistem que tem razão. Quem sou eu que pinto a vida em preto e branco, em riso ou pranto, em cada canto entorpecida, quem sou eu que em prosa ou verso, com palavras simples e singelas, que juntas formam aquarelas para a vida colorir, quem sou eu que às vezes chora, mas sem demora volta a sorrir.
Quem sou eu que como o outono, vago sem sono e como as folhas secas, penso até em desistir, quem sou eu que resisto ao frio, ao calor intenso, e faz da chuva um elixir. Quem sou eu que em tardes tristes, canta canções, declarações de amor à vida, quem sou eu que como o vento, espera o momento da despedida.
Quem sou eu que no silêncio ainda ouve um passarinho, quem sou eu que em meio ao caos consegue ainda sorrir sozinho. Quem sou eu que embora triste persiga o sonho até o fim, quem sou eu, sou um menino, um passarinho, um querubim? Quem sou eu, um pobre blues, um rock and roll ou um acorde dissonante, quem sou eu, eu sou o tempo, eu sou o vento, sou o instante.
Quem sou eu que não sabe cantar, não sabe voar, mas nem sempre tem os pés no chão, quem sou eu, sou um acorde, sou instrumento ou sou canção? Quem sou eu que quando perdido na multidão, sozinho, ainda crê numa solução, quem sou eu, não sou artista, não sou atleta, sou apenas um velho bardo, sou um poeta que rabisca a vida com emoção.
Jose Fernando Pinto