Helio Valim

Valle Central

 

As venezianas da rústica janela,

escancaradas, sem tramela.

Sem pudor, entregavam-se ao dia,

límpido como parte de uma melodia.

 

Derramando-se no parapeito

flores róseas daquela estação,

outono, ou quem sabe fim do verão.

Copihues ornavam vasos perfeitos.

 

O lago de Yeso, como prata,

refletia em suas águas plácidas

o dorso de impetuosa messalina,

a dissoluta cordilheira andina.

 

Gélida barreira cristalina,

derretendo-se em rios ligeiros,

inunda vales e dissemina

a alma de Dionísio e seus devaneios. 

 

O intenso bouquet dos frutos

aflora nas vinhas desses vales,

onde cálices de sublime néctar,

encantam deuses fazendo-os cantar.

  

Cachos de emoções imorais,

nos terrois dos vales centrais:

Maipo, Rapel, Curicó e Maule,

explodem em vinhos ancestrais.