Jessé Ojuara

PÓS NATAL

 

Andando na rua, hoje vi.
uma verdade tão cruel.
Alguns meninos contentes,
outros não viram o Noel.
Todo ano a mesma coisa.
Que me inspirou nesse cordel.

Porquê será questiono?.
Um “Papai” tão seletivo.
Sempre atende quem já tem.
E não vê o prejuízo.
Para a alma e o coração,
desses pequenos cativos.

De um sistema perverso,
que não mudou ou mudará.
Que só entristece alguns.
Pois sempre garantirá.
O privilégio aos ricos.
E aos pobres, deus dará.

Promessas e esperança.
Sonhos de recuperação.
Em brinquedos já não pensa.
Prefere um pedaço de pão.
Triste sina que não muda.
Fome, desprezo e opressão.

Vejo criança esquálida,
diante da sinaleira.
Defendendo o pão do dia.
Devia fazer molequeira.
É ofício de menino.
Em sua fase brejeira.

A hipocrisia pontual,
mostrando o seu dente.
Exime a nossa culpa,
nos transforma em penitente.
Cúmplice por omissão,
passiva e adjacente.

No Natal somos gentis.
Abrimos nossa carteira.
Para o pobre desvalido.
Aquele sem eira ou beira.
Generosidade hoje,
não dura até sexta-feira.

Porquê não intervém, enfim?
Nobre aniversariante.
Acabe com as injustiças.
Que sofre seu povo errante.
Desde que o mundo é mundo,
instiga-me a todo instante.

Desculpas eu lhe peço.
Interromper sua festa.
Vou voltar para a minha.
Depois tirar uma sesta.
Sempre foi assim, alguns dizem.
E o nosso descaso atesta.

Sonho com um mundo novo.
Mas humano e solidário.
Onde o bolo é repartido.
Sem nenhum bilionário.
Pode parecer utopia.
Juntos mudamos o cenário.