Eliabe Lira

Falar e falar

Enquanto eles falam, falam,

Escuto, escuto, estou mudo,

Como mordaças em minha boca.

 

Uma vez por outra encontramos,

Oportunidades raras de abrir a boca,

De falar tudo que sente, de poetizar 

Ou, talvez, mais profundo, qualquer coisa.

 

Silenciado por bocas doentes, sem espaço,

Não gosto da situação, mas, fácil de ignorar,

Difícil mesmo é falar, arrumar um tempinho,

Não preciso de muito, talvez, menos que pense.

 

E essas bocas falam, falam, não param, não dão espaço,

Enquanto danço, eles falam de como estou mal,

De como meus passos estão defasados, da minha magresa,

Enquanto canto, sou vaiado, não há espaço, não há voz.

 

Se decido sair, sou barrado, não tenho tempo,

Enquanto falam, vou vivendo, andando,

E falam de como às pessoas estão, de sua postura,

E odeiam a todos, pois todos falam, falam deles mesmos.

 

Por hora falar tem sido difícil, sem espaço,

Enquanto escrevo, eles falam por eu escrever,

E enquanto falam da escrita outros falam por falar,

Todos falam muito e eu, silêncio, não ouça, não fale.

 

Vou escrever por mais uns dias, até poder falar,

Ou ter o meu espaço, sem tempo, sem fala,

Enquanto eles falam, espero que chegue o dia

Em que eu desate a mordaça, fale, grite e viva ao mesmo tempo.