Não nasci feita,nem perfeita
mas trazia já no óvulo
Às sementes de mim,rarefeitas
Eu as fui plantando,cuidando
uma a uma jardinando,
adubando-as,aguando-as...
Fui crescendo, país sempre velando,
a escola,a Sociedade
e a Religião podando.
De menina,adolescente
me tornei,tímida,obediente
poucas regras quebrei,não ousei...
Cedo uma religião chegou
Foi- me apresentada, documentada
Eu a segui,acreditando
no Deus casto,puro amor
mas que punia com rigor.
Vivia acorrentada,calada
nunca me revelava mas duvidava.
Poucos amigos tinha então
Solitária entre os meus vivia.
Meus confins a família,
a Escola e a Religião delimitavam
Eu ia seguindo o rebanho...
Dentro de mim,um poço de medos
interrogações,indefinição
uma obra em contorçao.
Ia compondo a mulher que sou
fruto da hereditariedade,
dos estudos e pela Sociedade modelada.
Meus vazios? Com leitura preenchia.
E quanto me enrequecia!
Pincelava alguma poesia,
em segredo,muitas horas preenchia.
Sem cinzel meu ser fui esboçando
com esmero e sobriedade sobrevivia.
Neste labor ainda estou:
Não conclui a obra- mulher
que fui destinada a rever.
Hoje,madura sou e sigo,
Não penso em esmorecer.
Vou amalgamando os pedacinhos
desse meu ser,reunindo-os como notas musicais
de uma sonata, para não ficar inacabada.
Mas,ainda não sou minha versão permanente,
vivo em re-edicao,a espera de editor competente,
ou um ghost- write decente.
Aí,sim! Serei obra concluída,capa com título
em ouro cunhado e, já no céu, quem sabe,
ganho um Prêmio Nobel?
Maria Dorta escrito em 28.9.2019