Maria dorta

Boa Semente

Não nasci feita,nem perfeita

mas trazia já  no óvulo 

Às sementes de mim,rarefeitas

Eu as fui plantando,cuidando

uma a uma jardinando,

adubando-as,aguando-as...

Fui crescendo, país sempre  velando,

a escola,a Sociedade

e a Religião podando.

De menina,adolescente

me tornei,tímida,obediente

poucas regras quebrei,não ousei...

Cedo uma religião chegou

Foi- me apresentada, documentada

Eu a segui,acreditando

no Deus casto,puro amor

mas que punia com rigor.

Vivia acorrentada,calada

nunca me revelava mas duvidava.

Poucos amigos tinha então

Solitária  entre os meus vivia.

Meus confins a família,

a Escola e a Religião delimitavam

Eu ia seguindo o rebanho...

Dentro de mim,um poço  de medos

interrogações,indefinição 

uma obra em contorçao.

Ia compondo a mulher que sou

fruto da hereditariedade,

dos estudos e pela Sociedade modelada.

Meus vazios? Com leitura preenchia.

E quanto me enrequecia!

Pincelava alguma poesia,

em segredo,muitas horas preenchia. 

Sem cinzel meu ser fui esboçando 

com esmero e sobriedade sobrevivia.

Neste labor ainda estou:

Não conclui a obra- mulher

que fui destinada a rever.

Hoje,madura sou e sigo,

Não penso em esmorecer.

Vou amalgamando os pedacinhos

desse meu ser,reunindo-os como notas musicais

de uma sonata, para não ficar inacabada.

Mas,ainda não sou minha versão permanente,

vivo em re-edicao,a espera de editor competente,

ou um ghost- write decente.

Aí,sim! Serei obra concluída,capa com título

em ouro cunhado e, já no céu, quem sabe,

ganho um Prêmio Nobel?

Maria Dorta       escrito em 28.9.2019